quarta-feira, 13 de setembro de 2017

As 9 Escolas do Pensamento Econômico

E aí amigos do Sr. Bufunfa!

Hoje gostaria de abordar um tema bem legal, que são as escolas econômicas. Ao contrário do que a maioria das pessoas imaginam, não há apenas um tipo de teoria econômica. Não existe só uma resposta para tudo. Existem nove tipos diferentes de teorias, ou escolas, como muitas vezes são chamadas. Essas escolas não são inimigas, na verdade as fronteiras entre elas são indistintas. Nenhuma dessas escolas pode alegar superioridade sobre as outras, e menos ainda o monopólio da verdade. Ao contrário das ciências naturais, a economia envolve juízos de valor, apesar de muitos economistas dizerem que eles fazem uma ciência livre de valores. Atrás de conceitos técnicos e números áridos se encontram todos os tipos de juízos de valor:

O que é uma vida boa? Como as opiniões minoritárias devem ser tratadas? Como as melhorias sociais devem ser definidas e quais as formas moralmente aceitáveis de alcançar o “bem maior”?

Mesmo que uma teoria seja mais “correta” a partir de determinado ponto de vista político ou ético, pode não ser a partir de outro.

“O que isso tem a ver comigo?”

O fato é que todos nós precisamos saber algo sobre as diversas abordagens à economia; do contrário, seremos vítimas passivas das decisões de outra pessoa. Por trás de cada política econômica e ação empresarial que afetam nossas vidas — salário mínimo, terceirização, segurança social, segurança alimentar, aposentadoria etc. —, há alguma teoria econômica que as inspira ou, com mais frequência, fornece justificativa para o que os que estão no poder querem fazer. É apenas quando sabemos que existem diferentes teorias econômicas que podemos dizer aos que estão no poder que eles estão errados quando falam que “não há alternativa”, como disse certa vez Margaret Thatcher, na infame frase em defesa de suas medidas polêmicas. Quando aprendemos como é grande o terreno intelectual que há em comum entre supostas “facções inimigas” na economia, podemos resistir melhor aos que tentam polarizar o debate ao retratar tudo em preto e branco. (Alguém aí pensou em Reforma da Previdência?)
Abaixo há um breve resumo dos principais conceitos e percepções dessas "escolas". Esse post não tem a pretensão de te tornar um especialista nelas, apenas dar uma visão bem geral e aguçar sua curiosidade para estudá-las mais detalhadamente se assim desejar.


1 - A escola Clássica
Resumo: O mercado mantém todos os produtores em alerta por meio da competição; portanto, deixe-o em paz.

Surgiu no final do século XVIII e dominou o campo até o final do século XIX. Segundo a escola clássica, a busca do interesse próprio por agentes econômicos individuais produz um resultado socialmente benéfico sob a forma de riqueza nacional máxima. Esse resultado é possibilitado pelo poder da concorrência do mercado. No seu esforço para obter lucros, os produtores se esforçam para fornecer artigos melhores e mais baratos, e acabam produzindo artigos ao menor custo possível, maximizando, assim, a produção nacional. Essa ideia é conhecida como a mão invisível do mercado e tornou-se possivelmente a mais influente metáfora na economia.

A escola clássica rejeitava qualquer tentativa do governo de restringir o livre mercado, por exemplo, através do protecionismo ou regulamentação. A escola clássica via a economia capitalista como composta por “três classes da comunidade”, ou seja, capitalistas, trabalhadores e proprietários rurais.

Apesar de ser uma escola antiga, com poucos praticantes nos dias de hoje, a escola clássica ainda é relevante para o nosso tempo. Algumas teorias clássicas, mesmo que não estejam erradas no sentido lógico, têm aplicabilidade limitada hoje porque foram projetadas para um mundo muito diferente do nosso.


2 - A escola Neoclássica
Resumo: Os indivíduos sabem o que estão fazendo, então vamos deixá-los em paz — exceto quando os mercados funcionam mal.

A escola neoclássica surgiu na década de 1870. A escola neoclássica afirmava ser a herdeira intelectual da escola clássica. Os economistas clássicos acreditavam que o valor de um produto é determinado pelas condições de oferta, ou seja, os custos da sua produção. Eles mediam os custos segundo o tempo de trabalho despendido na produção — isso é conhecido como teoria do valor-trabalho. Os economistas neoclássicos enfatizavam que o valor (chamado por eles de preço) de um produto depende também do quanto o produto é valorizado pelos potenciais consumidores; o fato de algo ser difícil de produzir não significa que seja mais valioso. A escola conceituava a economia como um conjunto de indivíduos racionais e egoístas, e não como um conjunto de classes distintas, como dizia a escola clássica. A escola neoclássica mudou o foco da economia, da produção para o consumo e a troca.
Vilfredo Pareto (1848-1923) argumentou que, se respeitarmos os direitos de cada indivíduo soberano, é possível considerar que uma mudança social foi válida apenas quando ela melhora condições de um grupo sem piorar as de nenhum outro. Não deve haver mais sacrifícios individuais em nome do “bem maior”. Isso é conhecido como critério de Pareto, e hoje constitui a base de todos os julgamentos sobre melhorias sociais na economia neoclássica.
A escola neoclássica tem alguns pontos fortes específicos. Sua insistência em subdividir os fenômenos até o nível do indivíduo lhe confere um alto grau de precisão e clareza lógica. Ela é também versátil.
A escola neoclássica tem sido criticada por assumir, de maneira demasiado incisiva, que as pessoas são egoístas e racionais. O foco da escola neoclássica na troca e no consumo a faz negligenciar a esfera da produção, que é grande parte da nossa economia — e a mais importante, segundo outras escolas. Comentando sobre essa deficiência, Ronald Coase, economista institucionalista, em sua conferência ao receber o prêmio Nobel de economia de 1992, definiu depreciativamente a economia neoclássica como uma teoria que só serve para analisar “indivíduos solitários que fazem intercâmbio de nozes e frutinhas nas margens da floresta”.


3 - A escola Marxista
Resumo: O capitalismo é um poderoso veículo para o progresso econômico, mas vai entrar em colapso à medida que a propriedade privada se tornar um obstáculo para novos progressos.

Surgiu a partir das obras de Karl Marx, produzidas entre 1840 e 1860, a começar com a publicação de O manifesto comunista, em 1848, em coautoria com Friedrich Engels (1820-95). Vê-se cada sociedade como sendo construída sobre uma base econômica, ou modo de produção. Essa base é constituída pelas forças de produção (tecnologias, máquinas, habilidades humanas) e pelas relações de produção (direitos de propriedade, relações de emprego, divisão do trabalho). Sobre essa base está a superestrutura, que compreende a cultura, a política e outros aspectos da vida humana, que, por sua vez, afetam a maneira como a economia é posta em prática.
A escola marxista via as sociedades evoluindo através de uma série de etapas históricas, definidas segundo seu modo de produção: o comunismo primitivo (sociedades “tribais”); o modo de produção antigo (baseado na escravidão, como na Grécia e em Roma); o feudalismo (baseado na dominação de semi-escravos ou servos, ligados à terra, por senhores feudais); capitalismo; e comunismo. O capitalismo é visto como nada mais que uma fase do desenvolvimento humano antes de atingirmos a fase final, do comunismo.
A escola marxista via os conflitos de classe como a força central da história — resumida na declaração do Manifesto comunista: “A história da sociedade até hoje é a história da luta de classes”. Ademais, a escola marxista se recusava a ver a classe trabalhadora como uma entidade passiva, como fazia a escola clássica, e lhe atribuía papel ativo na história. Ao contrário da maioria dos economistas, Marx e alguns dos seus seguidores deram atenção ao trabalho como tal, e não como uma desutilidade que temos que aguentar a fim de ganhar dinheiro para consumir. Ele acreditava que o trabalho podia permitir que os seres humanos expressassem a sua criatividade inerente. Marx também foi o primeiro grande economista que compreendeu de verdade a importância da inovação tecnológica no processo de desenvolvimento capitalista, tornando-a o elemento central da sua teoria.


4 - A tradição desenvolvimentista
Resumo: As economias atrasadas não podem se desenvolver se deixarem as coisas inteiramente por conta do mercado.

Pouco conhecida pela maior parte das pessoas e raramente mencionada mesmo em livros de história do pensamento econômico, há uma tradição econômica ainda mais antiga do que a escola clássica que começou no fim do século XVI e início do XVII.
Não chamaremos a tradição desenvolvimentista de escola porque esse termo significa que há fundadores e seguidores identificáveis, com teorias fundamentais claras. Essa tradição é muito dispersa, com múltiplas fontes de inspiração e uma linhagem intelectual complicada.
É talvez a tradição intelectual mais importante na economia em termos de seu impacto sobre o mundo real. É essa tradição, e não o racionalismo estreito da economia neoclássica ou a visão marxista da sociedade sem classes, que está por trás de quase todas as experiências bem-sucedidas de desenvolvimento econômico na história da humanidade, desde a Grã-Bretanha do século XVIII, passando pelos Estados Unidos e Alemanha do século XIX, até a China de hoje.
A tradição desenvolvimentista se concentra em ajudar os países economicamente atrasados a desenvolver suas economias e alcançar os mais avançados. Para os economistas dessa tradição, o desenvolvimento econômico não é simplesmente uma questão de aumentar a renda, o que poderia acontecer devido a um aumento súbito de recursos, tal como encontrar petróleo ou diamantes. É uma questão de adquirir capacidades produtivas mais sofisticadas, isto é, a capacidade de produzir utilizando (e criando novas) tecnologias e organizações. Contudo, ela argumenta que essas atividades não se desenvolvem naturalmente numa economia atrasada, uma vez que já são realizadas pelas empresas nas economias mais avançadas. Nesse tipo de economia, a menos que o governo intervenha
para promover tais atividades — com tarifas, subsídios e regulamentação —, os livres mercados a puxarão constantemente de volta para aquilo que ela já faz bem — ou seja, atividades de baixa produtividade, com base em recursos naturais ou mão de obra barata. (Alguém pensou em Brasil?)


5 - A escola Austríaca
Resumo: Ninguém sabe o suficiente; então deixemos todo mundo em paz.

Nem todos os economistas neoclássicos defendem o livre mercado. E nem todos os economistas do livre mercado são neoclássicos. Os adeptos da escola austríaca são defensores ainda mais apaixonados do livre mercado do que a maioria dos seguidores da escola neoclássica.
A escola austríaca foi iniciada por Carl Menger (1840-1921) no fim do século XIX. Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich von Hayek (1899-1992) ampliaram a influência da escola para além de sua terra natal. Ela ganhou atenção internacional durante o chamado Debate do Cálculo, nos anos 1920 e 1930, no qual lutou contra os marxistas sobre a viabilidade do planejamento central. Em 1944, Hayek publicou um livro popular e extremamente influente, O caminho da servidão, que advertia com ardor contra o perigo de que a intervenção governamental leve à perda da liberdade fundamental do indivíduo.
Embora destacando a importância do indivíduo, a escola austríaca não acredita que os indivíduos são seres racionais e atomísticos, como assumido na economia neoclássica. Ela vê a racionalidade humana como algo severamente limitado. Seu argumento é que o comportamento racional só é possível porque nós, seres humanos, limitamos de forma voluntária, embora inconsciente, as nossas opções, aceitando sem questionar as normas sociais.
Os austríacos dizem que o livre mercado é o melhor sistema econômico não porque somos pessoas perfeitamente racionais que sabem tudo (ou pelo menos tudo que precisamos saber), tal como nas teorias neoclássicas, mas exatamente porque não somos muito racionais e porque há tantas coisas no mundo que são impossíveis de se conhecer em sua essência.


6 - A escola (neo-)Schumpeteriana
Resumo: O capitalismo é um poderoso veículo de progresso econômico, mas se atrofia à medida que as empresas se tornam maiores e mais burocráticas.

Joseph Schumpeter (1883-1950) não é um dos maiores nomes na história da economia. Mas seus pensamentos foram originais o suficiente para criar toda uma escola que leva seu nome — a escola schumpeteriana, ou neo-schumpeteriana. (Nem mesmo Adam Smith tem uma escola com seu nome.)
Tal como os austríacos, Schumpeter trabalhou sob a sombra da escola marxista — tanto que os primeiros quatro capítulos de sua grande obra, Capitalismo, socialismo e democracia, publicada em 1942, são dedicados às teorias de Marx.
Ele argumentou que o capitalismo se desenvolve por meio de inovações feitas por empreendedores, ou seja, a criação de novas tecnologias de produção, novos produtos e novos mercados. As inovações dão ao empresário bem sucedido um monopólio temporário em seu mercado, permitindo-lhe obter lucro excepcional, que Schumpeter chamou de lucro empresarial. Com o tempo seus concorrentes imitam as inovações, forçando o lucro de todos a baixar para o nível “normal”.
Ele observou que, com a escala crescente das firmas capitalistas e a aplicação de princípios científicos à inovação tecnológica (o surgimento dos “laboratórios empresariais”), os empresários estavam cedendo lugar para gestores profissionais, a quem ele chama, com desprezo, de “tipos executivos”. Com a burocratização da gestão das empresas, o capitalismo perderia seu dinamismo. O capitalismo iria murchar lentamente e se transformar em socialismo, e não encontrar a morte violenta prevista por Marx. A previsão de Schumpeter não se tornou realidade. O capitalismo virou, na verdade, mais dinâmico depois dessa previsão lúgubre da sua morte.
Felizmente, os herdeiros intelectuais de Schumpeter (também chamados de escola neo-schumpeteriana) ultrapassaram essa limitação da teoria, em especial através do sistema nacional de abordagem de inovação, que analisa as interações entre os vários agentes do processo de inovação — empresas, universidades, governos e outros.


7 - A escola Keynesiana
Resumo: O que é bom para os indivíduos pode não ser bom para a economia como um todo.

Nascido no mesmo ano que Schumpeter e também merecedor da honra de ter uma escola com seu nome, nosso foco agora é John Maynard Keynes (1883-1946). Em termos de influência intelectual, não há comparação entre os dois. Keynes foi, sem dúvida, o economista mais importante do século XX. Ele redefiniu a disciplina ao inventar o campo da macroeconomia — ramo dos estudos econômicos que analisa a economia como um todo, como uma entidade que é diferente da soma total das suas partes.
Antes de Keynes, a maioria das pessoas concordava com as palavras de Adam Smith: “O que é prudência na conduta de cada família não pode ser loucura na conduta de um grande reino”.
Rejeitando essa visão, Keynes procurou explicar como pode haver trabalhadores desempregados, fábricas ociosas e produtos não vendidos durante períodos prolongados, quando os mercados devem supostamente equiparar a oferta e a demanda.
Keynes partiu da observação óbvia de que uma economia não consome tudo o que produz. A diferença — isto é, o que ela economiza — precisa ser investida se se deseja que tudo que foi produzido seja vendido e se todos os insumos produtivos, incluindo o serviço dos trabalhadores, sejam empregados (é o que se chama de pleno emprego). Infelizmente, não há garantia de que essa quantia economizada será igual aos investimentos, em especial quando aqueles que investem e aqueles que poupam não são os mesmos. Isso porque o investimento, cujos retornos não são imediatos, depende das expectativas dos investidores sobre o futuro. E essas expectativas, por sua vez, são movidas por fatores psicológicos, e não por cálculos racionais, pois o futuro é cheio de incertezas.
A prevalência da incerteza na economia keynesiana significa que o dinheiro não é simplesmente uma unidade de contabilidade ou um meio de troca conveniente, como pensava a escola clássica (e a neoclássica). É um meio de fornecer liquidez — ou seja, uma maneira para alterar rapidamente a posição financeira — em um mundo incerto. Em vista disso, o mercado financeiro não é apenas um meio de fornecer dinheiro para investir, mas também um lugar para se ganhar dinheiro aproveitando as diferenças entre as opiniões quanto aos retornos sobre os mesmos projetos de investimento — em outras palavras, um lugar para a especulação.
A escola keynesiana pode ser criticada por dar atenção em demasia a questões de curto prazo — tal como resumido na famosa tirada humorística de Keynes: “A longo prazo estaremos todos mortos”. Keynes estava absolutamente certo ao enfatizar que não podemos executar políticas econômicas na esperança de que, no longo prazo, as forças “fundamentais”, como a tecnologia e a demografia, de algum modo resolvam tudo, como os economistas clássicos costumavam argumentar.
Contudo, o foco nas variáveis macroeconômicas de curto prazo tornou a escola keynesiana um pouco fraca nas questões de longo prazo, tais como o progresso tecnológico e as mudanças institucionais.

8 - A escola Institucionalista
Resumo: Os indivíduos são produto da sua sociedade, embora possam mudar as regras.

A partir do final do século XIX, um grupo de economistas americanos contestou as escolas clássica e neoclássica, então dominantes, por não dar importância, ou mesmo ignorar, a natureza social dos indivíduos — isto é, o fato de que eles são produto das suas sociedades. Eles argumentavam que precisamos analisar as instituições, ou regras sociais, que afetam e até mesmo formam os indivíduos. Esse grupo de economistas é conhecido como escola institucionalista.
O momento mais brilhante da escola foi o New Deal, de cujo projeto e execução participaram muitos de seus membros. Hoje o New Deal é muitas vezes considerado como um programa de políticas keynesianas. Mas, refletindo bem, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, a obra máxima de Keynes, só saiu em 1936, um ano após o segundo New Deal, de 1935 (o primeiro foi em 1933). O New Deal tratava muito mais das instituições — a regulação financeira, a segurança social, os sindicatos, a regulação dos serviços públicos — do que de política macroeconômica.
Após a década de 1960, a escola institucionalista entrou em declínio. Em parte isso foi devido à ascensão da economia neoclássica nos Estados Unidos na década de 1950. A visão bastante estreita da escola neoclássica do que a economia deve ser, com sua ênfase na teoria baseada no indivíduo, nos pressupostos “universais” e na modelagem abstrata, fez com que ela considerasse a escola institucionalista não só como diferente, mas intelectualmente inferior. Porém, o declínio também foi devido às fraquezas da própria escola. Ela não conseguiu teorizar plenamente os diversos mecanismos através dos quais as instituições surgem, persistem e mudam. Só via instituições como resultados de decisões coletivas formais (legislação) ou como produto da história (normas culturais). Contudo, as instituições podem ser criadas de outras formas: como uma ordem espontânea surgindo das interações entre indivíduos racionais (escolas austríaca e nova economia institucionalista); através de tentativas por parte de indivíduos e organizações de desenvolver dispositivos cognitivos que lhes permitam lidar com a complexidade (escola behaviorista); ou como resultado de uma tentativa de manter as relações de poder existentes (escola marxista).

9 - A escola Behaviorista
Resumo: Como nós não somos inteligentes o suficiente, precisamos restringir deliberadamente a nossa própria liberdade de escolha, através de regras.

A escola behaviorista é assim chamada porque tenta elaborar um modelo dos comportamentos humanos tal como eles realmente são, rejeitando a suposição neoclássica dominante de que os seres humanos sempre se comportam de forma racional e egoísta. A escola amplia essa abordagem para o estudo das instituições e organizações econômicas — por exemplo, qual a melhor forma de organizar uma empresa ou como projetar a regulamentação financeira. Assim, essa escola tem uma afinidade fundamental com a escola institucionalista, da qual alguns de seus membros também fazem parte.
Sua visão é que nós tentamos ser racionais, mas nossa capacidade é muito limitada, especialmente tendo em conta a complexidade do mundo — ou, dada a prevalência de incerteza, para usar uma formulação keynesiana. Isso significa que muitas vezes a principal restrição na nossa tomada de decisão não é a falta de informações, mas a nossa capacidade limitada de processar as informações que temos. Dada a nossa racionalidade limitada, desenvolvemos “atalhos” mentais que nos permitem economizar nossa capacidade mental. Esses atalhos são conhecidos como heurística (ou pensamento intuitivo) e podem assumir diferentes formas: regra geral, bom senso ou pareceres de peritos. Subjacente a todos esses dispositivos mentais está a capacidade de reconhecer padrões, que nos permite abandonar um grande leque de alternativas e focar num pequeno leque de possibilidades, administrável e promissor. Herbert Simon, agraciado com o prêmio Nobel de economia em 1978, costumava citar os mestres de xadrez como exemplo de quem usa uma abordagem mental — o segredo dos enxadristas está em sua habilidade de eliminar rapidamente os caminhos de busca menos promissores e convergir para uma sequência de lances que provavelmente darão melhores resultados. Focar um subconjunto de possibilidades significa que a escolha resultante pode não ser a ideal, mas essa abordagem nos permite lidar com a complexidade e a incerteza do mundo com a nossa racionalidade limitada. Portanto, argumenta Simon, ao fazer suas escolhas os seres humanos buscam o satisfatório, isto é, procuram soluções “boas o suficiente”, e não as melhores, como na teoria neoclássica.

Considerações finais: como fazer economia da melhor maneira

Não basta reconhecer que existem diferentes abordagens à economia. Essa diversidade tem que ser preservada ou até mesmo incentivada. Dado que diferentes abordagens enfatizam diferentes aspectos e oferecem perspectivas distintas, conhecer todo um leque de escolas e não apenas uma ou duas nos permite ter uma compreensão mais completa e equilibrada dessa entidade complexa chamada economia. Diferentes abordagens à economia podem se beneficiar de fato aprendendo umas com as outras, tornando mais rica a nossa compreensão do mundo econômico.

Tão logo aprendamos que diferentes teorias econômicas dizem coisas diferentes em parte porque se baseiam em valores éticos e políticos distintos, teremos a confiança para discutir a economia considerando o que ela de fato é: um argumento político, e não uma “ciência” em que há claramente certo e errado. E só quando o grande público mostrar consciência dessas questões é que os economistas profissionais considerarão impossível intimidá-lo se declarando guardiões de verdades científicas.

Assim, conhecer diferentes tipos de economia e seus respectivos pontos fortes e fracos não é um exercício esotérico reservado apenas para os economistas profissionais. É parte vital do aprendizado sobre economia e também uma contribuição ao nosso esforço coletivo para fazer com que essa disciplina possa melhor servir à humanidade.

Este post é um breve resumo dos conceitos apresentados no livro "Economia, Modo de Usar".

12 comentários:

  1. Que post espetacular! Cara coloquei um link do seu blog no meu, para acompanhá-lo. Abraço

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    1. Obrigado Ephodion! Vou colocar seu link aqui também! Abraços!

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  2. Bufunfa também é cultura, rs!
    Ótimo resumo.

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    1. Obrigado por aparecer por aqui FinancasCotidianas. Abraços!

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  3. Fala Sr. Bufunfa

    Primeiramente, parabéns pelo post!

    "Tão logo aprendamos que diferentes teorias econômicas dizem coisas diferentes em parte porque se baseiam em valores éticos e políticos distintos, teremos a confiança para discutir a economia considerando o que ela de fato é: um argumento político, e não uma “ciência” em que há claramente certo e errado. E só quando o grande público mostrar consciência dessas questões é que os economistas profissionais considerarão impossível intimidá-lo se declarando guardiões de verdades científicas."

    Este trecho é digno de aplausos por três motivos: pelo abuso saudável (e tão escasso nos atuais)de sinceridade, pela lucidez nas palavras utilizadas e pela honestidade intelectual desprendida.

    Abs do Termos Reais!

    (não consigo postar logado em minha conta em seu blog)

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    1. Obrigado Termos reais. Aqui está aparecendo normalmente sua postagem com seu login.

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  4. Muito didático o post, publiquei na minha fanpage...

    https://www.facebook.com/abacusliquiduo/

    Dá uma curtida lá, rs

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