quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A Infância do Menino Bufunfa

Olá amigos(as) do Sr. Bufunfa!

Gosto muito de ler as histórias de vida dos nossos guerreiros da Finansfera, principalmente aquelas de superação apesar de uma infância pobre e sem perspectivas.
Me permitem contar um pouco da minha também? Não é tão sofrida como outras que já li aqui na comunidade, mas ainda assim foi uma vitória chegar onde estou hoje. Vou contar de maneira bem resumida, ok?

Lá pelos anos 80 eu nasci. Meu pai era vendedor, e minha mãe dona de casa. Lembro ser uma criança aparentemente normal naquela época. Brincava na rua, ia ao colégio e tinha amigos. Até os 8 anos de idade a gente não tem muita percepção das coisas, e a noção de ser rico ou pobre não existia em minha mente. Morava em uma casa comum, e conhecia pessoas comuns que tinham rotinas parecidas. Meu pai pagava aluguel em uma casa pequena de 1 quarto, e ao mesmo tempo aos fins de semana, estava construindo uma casa em um terreno que comprou em sociedade com um tio. A ideia era economizar mensalmente para comprar os materiais de construção. Não era necessário pagar pedreiro, afinal de contas meu pai trabalhava na construção com a ajuda do meu tio. Em troca meu pai também ajudava na construção da casa desse tio nesse mesmo terreno.

Como dá para imaginar, eram raros os momentos que eu tinha o fim de semana para passear, soltar pipa ou jogar futebol com o meu pai, afinal ele estava sempre na obra para sairmos do aluguel. Sempre ouvi histórias de como meu pai adorava jogar futebol no time do bairro aos finais de semana, e imagino que abandonar isso para pegar um serviço de pedreiro aos fins de semana era difícil (após trabalhar 1 semana de pé como vendedor).

Meu pai perdeu o pai dele muito cedo, com uns 8 anos, e minha vó não tinha possibilidade de sustentar a família. Nessa idade meu pai foi enviado para um colégio interno que era de algum parente rico para viver e estudar. Em troca, ele fazia algumas atividades após o horário de estudo. Ele ficou neste colégio pelo menos uns 10 anos, vendo a família uma ou duas vezes por ano. Considerando este histórico, entendo perfeitamente que meu pai fosse obcecado em ter a própria casa para chamar de sua.
Meu irmão nasceu quando eu tinha 5 anos, e minha irmã com 7. Com a família aumentando, minha mãe começou a insistir para mudarmos para uma casa maior. Como a casa própria ainda não estava concluída, meu pai pegou um aluguel mais caro. Acredito que as coisas ficaram bem apertadas.
Três filhos, aluguel mais caro, e menos dinheiro sobrando para comprar os materiais de construção. Para quem não teve uma estrutura familiar adequada quando pequeno, acredito que a pressão em cima do meu pai foi grande. Sabe lá o que ele passou na infância naquele colégio interno... Ele até hoje fala o mínimo possível, mesmo quando a gente insiste em perguntar.

Uma fatalidade ocorreu: Meu pai perdeu o emprego. Estávamos nos anos 90 com inflação e a crise da dívida externa. Meu pai não tinha reservas financeiras e logo o padrão de vida começou a cair. Engraçado como criança não percebe as coisas não é? Lembro que na época o almoço mais comum em casa era arroz e ovo mexido, ou arroz e salsicha, ou arroz e sardinha em lata. Na época eu não percebia que isso era a dificuldade financeira, e só achava engraçado. Hoje em dia eu tenho ótimas lembranças de um prato só com arroz e ovo mexido, que é uma das minhas comidas preferidas.
Meu pai ficou devendo todo mundo. Comprava fiado em mercados e não tinha como pagar porque não arrumava emprego. Minha mãe começou a fazer misto quente para eu vender na rua para algumas pessoas. Não era bem na rua, pois eu vendia em algumas escolinhas de reforço que tinha no bairro. Mesmo assim não foi suficiente... A pressão foi muito forte e meu pai começou a beber muito. Passado um tempo, começou a agredir minha mãe. No final de tudo começou a praticamente morar na rua. Um dia passei na rua e ele estava todo sujo e com a cabeça raspada! Acho que ele me evitava, pois não me olhava quando passava na rua. Muitas pessoas me paravam na rua e perguntavam se meu pai tinha ficado maluco.

Alguns parentes dele de outra cidade souberam disso e foram ajudar. Arrumaram um emprego para ele em outra cidade, e logo depois nossa família toda se mudou, deixando toda a vergonha para trás e começando tudo de novo. E o melhor: Conhecendo gente nova que não sabia desse histórico.

Depois desse primeiro episódio, houveram outros dois períodos que meu pai entrou profundamente no alcoolismo e começou a agressão física à minha mãe dentro de casa novamente. Sempre isso me deixava profundamente perturbado. Percebo que após esses episódios, passei a ser uma pessoa diferente. Não sei se foram por causa desses traumas, ou se eu já estava predestinado a ser assim e apenas coincidiu com a mesma época. Me refiro à ser uma pessoa muito fechada e com poucos amigos. Isso foi mudando após os 18 anos, mas para algumas coisas ainda percebo que não foram embora totalmente.

Minha adolescência foi boa. Por mais que tenham havidos esses problemas, não vou ficar aqui me vitimizando. Violência doméstica e problemas com alcoolismo nas famílias é muito comum, mesmo não sendo aceitável.

Hoje sou muito orgulhoso, e quero ter minha independência. Não gosto de receber nada dos outros. Gosto de conquistar. Quando me mudei de cidade com a ajuda da família do meu pai, não foi apenas o emprego que conseguiram para ele. Sempre ajudavam com um valor em dinheiro todo mês, faziam compras no mercado, e ganhávamos as roupas dos nossos primos que eles não usavam mais. Até uma casa bem simples no pior bairro da cidade deram para o meu pai para ele não precisar pagar aluguel. Tivemos muita sorte! Qual família hoje em dia faz uma coisa dessas? Até com material de colégio eles nos ajudavam. Não é possível afirmar que eu seria um "zé ninguém" hoje em dia se não tivesse esse empurrãozinho, mas com certeza ajudou bastante. Não concordam?
Não querendo ser ingrato, mas isso foi bom porque não nos deixou na miséria, mas foi ruim porque mexeu com minha auto-estima. Não eram raras as vezes que meus primos ficavam jogando piadinha e tirando sarro que eu era pobre e usava as roupas deles. "Tiravam onda" com os tênis novos e coisas de marca. Tinham bicicletas e vídeo-game novos. Era uma humilhação ouvir essas coisas e ter que ficar mendigando para poder andar um pouco de bicicleta ou jogar  vídeo game. O pior de tudo era o fato de serem primos muito "playboys" que sempre faziam questão de ficar comparando e humilhando.

Eu vivia em dois mundos muito distantes. O bairro que eu morava era muito diferente do que havia morado antes. Era muito pobre e as crianças eram muito "avançadas" e maliciosas para a idade. Eu era muito inocente. Não conseguia me envolver com aquela turma pois eu era visto como um estranho. Mesmo usando roupas usadas dos meus primos, ainda pareciam bem melhores do que a deles, portanto tinham inveja. Quando me aceitaram para jogar futebol uma vez fiquei alegre, até logo descobrir que era só uma estratégia para roubar a minha bola.

No outro mundo dos meus primos, eu também era considerado um peixe no aquário errado. Era nítido que eu era diferente, e meus primos faziam questão de contar para todos os nossos "amigos" onde eu morava, que meu pai recebia ajuda e que eu usava a roupa que eles não queriam mais. Então nos dias de semana eu ia ao colégio e na volta ficava praticamente só em casa. Aos fins de semana ia brincar na casa da minha vó onde todos os primos se reuniam juntamente com todas as crianças daquele bairro chique. Eu ficava boquiaberto com as coisas que eles tinham. Na época era moda o desenho animado "Cavalheiros do Zodíaco", e aqueles meninos ganhavam dos pais uns bonecos dos personagens que custavam o salário mínimo na época. Meu pai ganhava um salário mínimo por mês. Dá para imaginar o abismo em que eu me encontrava não é?
Como o colégio que frequentava era em outro bairro menos pobre e mais parecido com o que morava anteriormente, logo fiz algumas amizades que perduram até hoje (mesmo sendo introvertido na época). Várias vezes eu ia a pé para o outro bairro para brincar com as crianças de lá. No bairro pobre que morava nunca fiz amigos e não conheço praticamente ninguém até hoje.

Meu pai sempre foi muito trabalhador, e essas crises com alcoolismo não se devem ao fato de ser um vagabundo de bar, ele só não aguentava as pressão da vida. Desde cedo ele me colocou para fazer várias atividades domésticas. Quer alguns exemplos?

Varrer o quintal (era enorme e tinham várias árvores)
Cortar a grama com tesoura de jardinagem
Capinar o quintal
Tirar o mato com a mão dos canteiros de plantações (eram vários)
Cuidar do galinheiro, alimentando as galinhas e tirando as "bostas"
Ser o servente de pedreiro nas várias ocasiões que ele fazia os muros e aumentava nossa casa
Etc

Acredito que mesmo não gostando disso na época, e me sentindo a criança mais azarada do mundo (meus amigos não faziam nada, só estudavam), isso me ajudou muito e me fez ser a pessoa guerreira e batalhadora de hoje.

Mesmo na infância isso me ajudou. Na época existia uma febre de Super Nintendo. Todos meus primos e amigos ricos do bairro da minha avó tinham vídeo-game, mas eu evitava jogar lá para me abster da humilhação a que era submetido. No bairro que tinha amigos (do colégio), a moda na época eram aquelas casas de games. Tinham várias TVs e consoles para jogar, e a gente pagava por hora. Eu lembro bem que você poderia trocar de jogo a cada meia hora no mínimo, nunca menos. Como meu pai não tinha dinheiro para isso, o que acabei fazendo foi fazer o meu próprio canteiro de hortaliças em casa e comecei a cultivar couve e alface para vender no bairro. Também comecei a criar codornas para vender os ovos. Com a grana eu conseguia jogar vídeo game e comprar pequenas coisas que gostava. Até nesse bairro do colégio onde as crianças não eram ricas, a maioria lanchava salgados e refrigerantes durante o recreio. Eu que era mais humilde, "perdia" todo o recreio na fila para almoçar às nove horas da manhã. Com a grana daquele mini empreendimento infantil das couves, alfaces e codornas, as vezes me dava ao luxo de merendar uma pizza frita com coca-cola.
Não era chique assim, mas era tipo isso
No ensino médio mudei de colégio e as coisas foram mais ou menos do mesmo jeito, até que me formei e não sabia o que fazer. Meus outros amigos logo iniciaram a faculdade, e eu não tinha condições para isso. Não existia ENEM e PROUNI. Ou pagava uma faculdade particular ou passava em uma pública (que sai mais caro que a particular). Ninguém da minha família sequer comentou de faculdade comigo algum dia, de forma que eu entendia que não esperavam que eu fizesse pois não teriam como pagar. Terminei o ensino médio e comecei a procurar emprego. Óbvio que não foi nada fácil. Foram 2 anos em casa no maior tédio. Um dia ouvi na rádio que estavam fazendo um teste para locutor. Fui na mesma hora naquela rádio comunitária fazer o teste e passei. Aquele menino tímido logo passou a ser uma pessoa mais comunicativa e que em pouco tempo se tornou um dos melhores da rádio. Era legal passar na rua e observar as pessoas ouvindo no aparelho de som na maior altura meu programa de rádio. Não tinha salário fixo, pois meu rendimento era proveniente dos anunciantes que conseguia. Não ganhava bem, mas para quem nunca tinha ganhado nada na vida, quebrava o galho. Ajudava também com a auto-estima e ocupar o tempo.

Um dia através de um grande processo seletivo no SENAI, fui aprovado após várias etapas e consegui fazer um bom curso técnico grátis. Minha média final foi 95, uma das melhores. Depois de algum tempo, esse curso me ajudou a entrar em uma grande fábrica para trabalhar. A pessoa que me colocou dentro dessa fábrica morava no meu bairro pobre, e eu já o havia ajudado alguns anos antes a "encher" a laje da casa do pai dele. Acho que isso deve ter pesado um pouco, afinal aquele garoto magrelo (eu) não era um vagabundo qualquer e poderia muito bem aguentar o tranco em um serviço pesado.

Bem, nessa altura da vida já tinha 18 anos e não era mais uma criança. Como o post é sobre a minha infância, o que acham de futuramente fazer um outro post falando sobre como foi minha vida profissional e adulta partindo do ponto onde parei?

Vocês gostam desse tipo de assunto? Gostaram desse post? Querem que eu continue? Deixem nos comentários abaixo.

Valeu! Até a próxima!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

23 Coisas que NÃO nos contaram sobre o Capitalismo - PARTE 2


Bem vindos de volta leitores do blog Senhor Bufunfa

Após a postagem da parte 1 deste post "23 Coisas que NÃO nos contaram sobre o Capitalismo", houveram muitos comentários negativos sobre as teorias do autor. Convido a lerem essa segunda parte, mas também lerem o livro, pois lá estão todas as fundamentações e exemplos práticos. Realmente tem muita coisa chocante, que vai de encontro toda a teoria neo liberal que está em moda hoje em dia. A inteligência consiste em não ficar nos extremos, portanto absorva informações dos 2 lados antes de formar sua opinião.

Vamos nos impressionar mais? hehehehe

12 - Os governos são capazes de fazer boas escolhas
Os governos são capazes de fazer boas escolhas, às vezes escolhas espetaculares. Se olharmos em volta com a mente aberta, veremos muitos exemplos no mundo inteiro de governos que fizeram escolhas bem-sucedidas. O argumento de que as decisões do governo que afetam as empresas comerciais certamente serão inferiores às decisões tomadas pelas próprias empresas é injustificável. Ter informações mais detalhadas não garante melhores decisões; na realidade, pode ser mais difícil tomar a decisão certa quando estamos envolvidos demais com a situação. Além disso, existem maneiras pelas quais o governo pode obter melhores informações e melhorar a qualidade das suas decisões. Além do mais, decisões que são boas para empresas individuais podem não ser boas para a economia nacional como um todo. Por conseguinte, o fato de o governo escolher vencedores contrariando os sinais do mercado pode melhorar o desempenho econômico nacional, especialmente se isso for feito em estreita (porém não excessiva) colaboração com o setor privado.

13 - Tornar as pessoas ricas mais ricas não faz com que todo mundo fique rico
A ideia que acaba de ser apresentada, conhecida como “economia trickle-down”, tropeça no seu primeiro obstáculo. Apesar da dicotomia usual de “política pró-ricos que estimula o crescimento” e “política pró-pobres que reduz o crescimento”, as políticas pró-ricos têm deixado de acelerar o crescimento nas últimas três décadas. Portanto, o primeiro passo deste argumento — ou seja, a ideia de que dar um pedaço maior da torta para os ricos tornará a torta maior — não se sustenta. A segunda parte do argumento — a opinião que uma maior riqueza criada no topo com o tempo gotejará e cairá sobre os pobres — tampouco funciona. O efeito trickle-down acontece, mas em geral o seu impacto é muito pequeno se o deixarmos entregue ao mercado.
Até mesmo quando a redistribuição ascendente da renda cria mais riqueza do que seria possível de outra maneira (o que, repito, não aconteceu), não existe nenhuma garantia de que os pobres irão se beneficiar dessas rendas adicionais. A maior prosperidade no topo poderia com o tempo gotejar (trickle-down) e beneficiar os pobres, mas essa não é uma conclusão predeterminada. É claro que o trickle-down não é uma ideia completamente idiota. Não podemos avaliar o impacto da redistribuição da renda apenas em função dos seus efeitos imediatos, por mais positivos ou negativos que estes possam parecer. Quando as pessoas ricas têm mais dinheiro, elas podem usá-lo para aumentar o investimento e o crescimento, em cujo caso o efeito a longo prazo da redistribuição da renda poderá ser o crescimento no tamanho absoluto, embora não necessariamente na parcela relativa, da renda que todo mundo recebe.
O simples fato de tornarmos os ricos mais ricos não faz com que todo mundo fique mais rico. Para que dar mais para os ricos beneficie o resto da sociedade, os ricos terão que ser obrigados a fazer um investimento mais elevado e assim promover um maior crescimento por meio de políticas econômicas (p. ex., incentivos fiscais para as pessoas e corporações ricas, condicionados aos investimentos), e depois compartilhar os frutos desse crescimento por meio de um mecanismo como o estado do bem-estar social.

14 - Os executivos americanos são caros demais
Os executivos americanos são excessivamente caros em mais de um sentido. Primeiro, eles são caros demais em comparação com os seus antecessores. Em termos relativos (ou seja, como uma proporção da remuneração do trabalhador médio), os CEOs americanos de hoje recebem cerca de dez vezes mais do que os seus predecessores da década de 1960, apesar do fato de estes últimos administrarem empresas que eram muito mais bem-sucedidas, em termos relativos, do que as empresas americanas de hoje. Os executivos americanos também são caros demais em comparação com os seus  quivalentes em outros países ricos. Em termos absolutos, eles recebem, dependendo do critério que utilizarmos e do país com o qual fizermos a comparação, até vinte vezes mais do que os seus concorrentes que administram empresas igualmente grandes e bem sucedidas.
Os dirigentes americanos não apenas são caros demais como também são excessivamente protegidos no sentido que não são punidos pelo mau desempenho. E tudo isso não é, ao contrário do que muitas pessoas argumentam, puramente determinado pelas forças do mercado. A classe empresarial nos Estados Unidos obteve um tal poder econômico, político e ideológico, que tem sido capaz de manipular as forças que determinam a sua remuneração.

15 - As pessoas nos países pobres são mais empreendedoras do que as pessoas nos países ricos
As pessoas que vivem nos países pobres precisam ser empreendedoras mesmo que apenas para sobreviver. Para cada pessoa ociosa em um país em desenvolvimento, você tem duas ou três crianças engraxando sapatos e quatro ou cinco pessoas vendendo mercadorias na rua. O que torna pobres os países pobres não é a ausência de uma energia empreendedora no nível pessoal, e sim a ausência de tecnologias produtivas e organizações sociais desenvolvidas, especialmente empresas modernas. Os problemas cada vez mais evidentes do microcrédito — empréstimos bem pequenos feitos às pessoas pobres nos países em desenvolvimento com o objetivo declarado de ajudá-las a montar um negócio — mostram as limitações do empreendedorismo individual. Especialmente no último século, o empreendedorismo se tornou uma atividade coletiva, de modo que a pobreza da organização coletiva se tornou um obstáculo ainda maior ao desenvolvimento econômico, e não a mentalidade empreendedora deficiente das pessoas.

16 - Não somos inteligentes o bastante para deixar que o mercado cuide das coisas
As pessoas não sabem necessariamente o que estão fazendo, porque a nossa capacidade de compreender até mesmo questões que dizem respeito diretamente a nós é limitada — ou, como diz o jargão, temos uma “racionalidade limitada”.[55] O mundo é muito complexo e a nossa capacidade de lidar com ele é fortemente limitada. Por conseguinte, precisamos deliberadamente restringir a nossa liberdade de escolha a fim de reduzir a complexidade dos problemas que temos que enfrentar, e geralmente o fazemos. Com frequência, as regulamentações do governo funcionam, especialmente em áreas complexas como o moderno mercado financeiro, não porque o governo tenha um conhecimento superior mas porque ele restringe as escolhas e, portanto, a complexidade dos problemas em questão, reduzindo assim a possibilidade de que as coisas deem errado.

17 - Mais instrução por si só não tornará um país mais rico
Existem pouquíssimas evidências que demonstrem que um povo mais instruído acarrete uma maior prosperidade nacional. Grande parte do conhecimento adquirido na escola na realidade não é relevante para o aumento da produtividade, embora isso possibilite que as pessoas tenham uma vida mais gratificante e independente. Além disso, a concepção de que o surgimento da economia do conhecimento tenha aumentado decisivamente a importância da instrução é enganosa. Para começar, a ideia da economia do conhecimento em si é problemática, já que o conhecimento sempre foi a principal fonte de riqueza. Além disso, com a crescente desindustrialização e mecanização, as exigências de conhecimento talvez tenham até mesmo diminuído na maioria das ocupações nos países ricos. Mesmo quando se trata da instrução superior, que se presume seja mais importante na economia do conhecimento, não existe um relacionamento simples entre ela e o crescimento econômico. O que realmente importa na determinação da prosperidade nacional não é o nível de instrução das pessoas e sim a capacidade da nação de organizar pessoas em empreendimentos com uma elevada produtividade.

18 - O que é bom para a General Motors não é necessariamente bom para os Estados Unidos
Apesar da importância do setor corporativo, conceder às empresas um grau máximo de liberdade pode nem mesmo ser bom para as próprias empresas, que dirá para a economia nacional. Na realidade, nem todas as regulamentações são prejudiciais para os negócios. Às vezes, é do interesse a longo prazo do setor comercial restringir a liberdade de empresas individuais para que elas não destruam os recursos compartilhados de que todas precisam, como os recursos naturais ou a força de trabalho. As regulamentações também podem ajudar as empresas obrigando-as a fazer coisas que podem ser individualmente dispendiosas para elas a curto prazo mas que aumentam a produtividade coletiva delas a longo prazo, como oferecer treinamento aos funcionários. No final, o que importa não é a quantidade e sim a qualidade da regulamentação empresarial.

19 - Apesar da queda do comunismo, ainda estamos vivendo em economias planejadas
As economias capitalistas são em grande parte planejadas. Os governos nas economias capitalistas também praticam o planejamento, embora de uma maneira mais limitada do que no planejamento central comunista. Todos financiam uma parcela significativa do investimento em P&D e infraestrutura. A maioria deles planeja uma parte significativa da economia por meio do planejamento das atividades das empresas estatais. Muitos governos capitalistas planejam a configuração futura dos setores industriais por intermédio da política industrial setorial ou até mesmo a da economia nacional por intermédio do planejamento indicativo. O mais importante é que as modernas economias capitalistas são formadas por grandes corporações hierárquicas que planejam detalhadamente as suas atividades, até mesmo além das fronteiras nacionais. Por conseguinte, a questão não é planejar ou deixar de planejar, e sim planejar as coisas certas nos níveis adequados.

20 - A igualdade de oportunidades pode não ser justa
A igualdade de oportunidades é o ponto de partida para uma sociedade justa, mas não é suficiente. É claro que as pessoas devem ser recompensadas por um desempenho melhor, mas a questão é se elas estão efetivamente competindo sob as mesmas condições que os seus concorrentes. Se uma criança não tem um bom desempenho na escola porque está com fome e não consegue se concentrar na aula, não podemos dizer que ela não está se saindo bem por ser inerentemente menos capaz. A concorrência justa só pode ser alcançada quando a criança está bem alimentada — em casa por meio do apoio da renda familiar e na escola por intermédio de um programa de refeições gratuitas. A não ser que exista alguma igualdade no resultado (p. ex., a renda de todos os pais está acima de um certo limite mínimo, o qual possibilita que as crianças não passem fome), as oportunidades iguais (p. ex., a instrução gratuita) não são realmente significativas.

21 - O governo poderoso torna as pessoas mais abertas à mudança
Um estado do bem-estar social bem planejado pode na realidade encorajar as pessoas a correr riscos com o seu emprego e ser mais, e não menos, abertas às mudanças. Essa é uma das razões pelas quais existe na Europa uma demanda menor de proteção comercial do que nos Estados Unidos. Os europeus sabem que, mesmo que as suas indústrias fechem devido à concorrência estrangeira, eles serão capazes de proteger o seu padrão de vida (por meio dos benefícios do auxílio-desemprego) e receber um treinamento para outra função (com subsídios do governo), ao passo que os americanos sabem que a perda do emprego pode significar uma enorme queda no seu padrão de vida, podendo até mesmo representar o fim da sua vida produtiva. É por esse motivo que os países europeus com os maiores estados do bem-estar social, como a Suécia, a Noruega e a Finlândia, conseguiram crescer mais rápido do que os Estados Unidos (ou com a mesma rapidez), até mesmo durante a “Renascença Americana” pós-1990.

22 - Os mercados financeiros precisam se tornar menos, e não mais, eficientes
O problema dos mercados financeiros atuais é que eles são eficientes demais. Com as recentes “inovações” financeiras que produziram um número enorme de novos instrumentos financeiros, o setor financeiro tornou-se mais eficiente em gerar lucros para si mesmo a curto prazo. Entretanto, como foi visto na crise global de 2008, esses novos ativos financeiros tornaram a economia como um todo, bem como o próprio sistema financeiro, muito mais instável. Além disso, considerando-se a liquidez dos seus ativos, os detentores dos ativos financeiros reagem com uma rapidez excessiva à mudança, o que torna difícil para as empresas do setor real manter o “capital paciente” de que elas precisam para se desenvolver a longo prazo. A defasagem da velocidade entre o setor financeiro e o setor real precisa ser reduzida, o que significa que é necessário tornar o mercado financeiro deliberadamente menos eficiente.

23 - Uma boa política econômica não requer bons economistas
A execução de boas políticas econômicas não requer bons economistas. Os burocratas econômicos que têm tido mais êxito não são em geral economistas. Durante os seus anos “milagrosos”, as políticas econômicas do Japão e (em menor grau) da Coreia foram dirigidas por advogados. Em Taiwan e na China, as políticas econômicas têm sido conduzidas por engenheiros. Isso demonstra que o sucesso econômico não necessita de pessoas bem treinadas em economia — especialmente se for do tipo do livre mercado. Aliás, durante as três últimas décadas, a crescente influência da economia do livre mercado resultou em um desempenho econômico mais ineficiente no mundo inteiro — um crescimento econômico mais baixo, uma maior instabilidade econômica, uma maior desigualdade, que finalmente culminaram no desastre da crise financeira de 2008. Na medida em que precisamos da economia, precisamos de vários tipos de economia diferentes da economia do livre mercado.

Conclusão:

Isso aí meus amigos! Se ficaram de cabelo em pé como eu, já era de imaginar!
O autor é muito competente em nos deixar indignados a primeira vista com essas afirmações.

Abraços e até a próxima

sábado, 26 de agosto de 2017

23 Coisas que NÃO nos contaram sobre o Capitalismo - PARTE 1

Olá amigos do Bufunfa! Fim do mês está chegando e está quase na hora de apresentar uma atualização do balanço patrimonial e o demonstrativo dos resultados do mês.

Enquanto o fim do mês não chega, gostaria de compartilhar com vocês um excelente conteúdo extraído do livro "23 Coisas que não nos Contaram sobre o Capitalismo" do sul coreano Ha-Joon Chang.

Eu sou o tipo de pessoa que dá mais atenção em ver as coisas de uma maneira mais macro, ao invés de me ater à questões micro. Isso de certo modo reflete-se na maneira como realizo investimentos.

Acho muito importante analisar uma empresa e seus balanços financeiros. Também o volume de negócios de determinada ação ou bolsa de valores por exemplo. Porém acho ainda mais importante ver "a coisa" como um todo. A coisa toda a que me refiro são os mercados (e os agente de mercado) e o sistema capitalista em si.

Recomendo fortemente a leitura deste livro que pode ser encontrado "gratuitamente" na internet se assim desejar.

A leitura do mesmo só confirmou a minha visão de que o Capitalismo é um jogo que funciona para empoderar ainda mais os poderosos e manter a base da pirâmide com as condições mínimas para sustentar o topo. Sabemos que entre os colegas existem os adoradores admiradores do Capitalismo, e entendo perfeitamente esse ponto de vista. Por mais que os tópicos abaixo pareçam muito provocativos e avessos a nossa compressão (percepção) do que é Capitalismo. o intuito é justamente nos deixar instados a nos debulhar aos conceitos apresentados.

Neste processo identifiquei muitos pontos muito bem colocados pelo autor que tanto endossam as qualidades do Capitalismo, como desnudam as principais motivações da elite capitalista com esse sistema que perpetua a riqueza exclusivamente para si.

Antes de mais nada, é necessário alertar que as afirmações abaixo foram revoltantes também para mim, que em princípio parecia bastante asneira. No livro ele fundamenta cada afirmação abaixo, e não tem como não dar razão para o autor em vários pontos. Recomendo que leiam o livro.

Vamos ver resumidamente quais são esses 23 segredos sobre o Capitalismo?

1 - Não existe algo como um livre mercado
O livre mercado não existe. Todo mercado tem algumas regras e limites que restringem a liberdade de escolha. O mercado só parece livre porque estamos tão condicionados a aceitar as suas restrições subjacentes que deixamos de percebê-las. Reconhecer que os limites do mercado são ambíguos e não podem ser determinados de uma maneira objetiva nos permite entender que a economia não é uma ciência como a física ou a química, e sim um exercício político. Os economistas que defendem o livre mercado podem querer que você acredite que os limites corretos do mercado podem ser cientificamente determinados, mas isso é incorreto. Se os limites do que você está estudando não podem ser cientificamente determinados, o que você está fazendo não é uma ciência.
Quando os economistas que defendem o livre mercado dizem que uma certa regulamentação não deve ser introduzida porque restringiria a “liberdade” de um certo mercado, eles estão meramente expressando a opinião política de que rejeitam os direitos que serão defendidos pela lei proposta. O seu disfarce ideológico é fingir que a sua política não é realmente política, mas sim uma verdade econômica objetiva, enquanto a política das outras pessoas é política. Não obstante, eles são tão politicamente motivados quanto os seus adversários.
Libertar-nos da ilusão da objetividade do mercado é o primeiro passo que temos que dar para poder entender o capitalismo.

2 - A gestão das empresas não deve estar voltada para o interesse dos seus donos
Os acionistas podem ser os donos das corporações mas, sendo os mais instáveis dos participantes do negócio, com frequência são aqueles que menos se importam com o futuro a longo prazo da empresa (a não ser que sejam tão grandes que não possam realmente vender as ações sem abalar seriamente o negócio). Isso acontece porque eles desejam grandes lucros a curto prazo, e tomam decisões que podem ser maléficas a longo prazo. Eles podem deixar a empresa com mais facilidade; tudo o que precisam fazer é vender as suas ações, se necessário com uma pequena perda, desde que sejam inteligentes o bastante para não aderir a uma causa perdida por tempo demais. Em contrapartida, é mais difícil para outros, como funcionários e fornecedores, deixar a empresa e encontrar outro compromisso, porque é provável que tenham acumulado habilidades e bens de capital (no caso dos fornecedores) especificamente relacionados com as empresas com quem fazem negócio. Por conseguinte, eles têm um interesse maior na viabilidade da empresa do que a maioria dos acionistas. É por esse motivo que maximizar o valor do acionista é ruim para a empresa, bem como para o restante da economia.

3 - O salário da maioria das pessoas nos países ricos é maior do que deveria ser 
A defasagem salarial entre os países ricos e pobres não existe principalmente por causa de diferenças na produtividade individual e sim devido ao controle da imigração. Se a imigração fosse livre, a maioria dos trabalhadores nos países ricos poderia ser, e efetivamente seria, substituída por trabalhadores dos países pobres. Em outras palavras, os salários são determinados politicamente.

4 - A máquina de lavar roupa "mudou" mais o mundo do que a internet o fez
Sob o aspecto das consequentes mudanças econômicas e sociais, a revolução da internet (pelo menos ainda) não foi tão importante quanto a máquina de lavar roupa e outros eletrodomésticos, os quais, ao reduzir enormemente a quantidade de trabalho necessário para a execução das tarefas domésticas, possibilitou que as mulheres ingressassem no mercado de trabalho e praticamente extinguiu profissões como os serviços domésticos. Não devemos “inverter o telescópio” quando contemplamos o passado subestimando o velho e superestimando o novo, porque isso nos leva a tomar os mais diferentes tipos de decisões errôneas a respeito da política econômica nacional, das políticas corporativas e das nossas próprias carreiras.

5 - Pressuponha o pior com relação às pessoas e você receberá o pior
O interesse pessoal é uma característica extremamente poderosa em quase todos os seres humanos. No entanto, não é o nosso único impulso. Com frequência, não é nem mesmo a nossa principal motivação. Na realidade, se o mundo estivesse repleto das pessoas egoístas que encontramos nos compêndios de economia, ele ficaria paralisado porque passaríamos a maior parte do tempo trapaceando, tentando capturar os trapaceiros e punindo os que fossem apanhados. O mundo funciona como funciona somente porque as pessoas não são os agentes totalmente egoístas que a economia do livre mercado acredita que elas sejam. Precisamos projetar um sistema econômico que, ao mesmo tempo que reconheça que as pessoas são frequentemente egoístas, explore outros motivos humanos e extraia o que há de melhor nas pessoas. O mais provável é que se pressupusermos o pior com relação às pessoas, obteremos o que há de pior nelas.

6 - A maior estabilidade macroeconômica não tornou a economia mundial mais estável
A inflação pode ter sido subjugada, mas a economia mundial tornou-se consideravelmente mais instável. A proclamação entusiástica do nosso sucesso ao controlar a volatilidade dos preços nas três últimas décadas não deu atenção à extraordinária instabilidade exibida pelas economias ao redor do mundo nessa ocasião. Houve um número enorme de crises financeiras, entre elas a crise financeira mundial de 2008, que destruiu a vida de muitas pessoas por meio do endividamento pessoal, da falência e do desemprego. O foco excessivo na inflação distraiu a nossa atenção de questões como o pleno emprego e o crescimento econômico. O emprego se tornou mais instável em nome da “flexibilidade do mercado de trabalho”, o que desestabilizou a vida de muitas pessoas. Apesar da afirmação de que a estabilidade dos preços é a precondição para o crescimento, as políticas que tencionavam reduzir a inflação produziram apenas um crescimento anêmico a partir da década de 1990, época em que a inflação foi supostamente subjugada.
A nossa obsessão pela inflação deve terminar. A inflação se tornou o bicho-papão que tem sido usado para justificar políticas que favoreceram principalmente os detentores dos ativos financeiros, à custa da estabilidade a longo prazo, do crescimento econômico e da felicidade humana.

7 - As políticas de livre mercado raramente fazem os países pobres ficarem ricos
O desempenho dos países em desenvolvimento no período em que o estado dominou o desenvolvimento foi superior ao que eles alcançaram durante o período subsequente de reforma voltada para o mercado. Houve alguns fracassos grandiosos da intervenção estatal, mas quase todos esses países cresceram muito mais rápido, com uma distribuição de renda mais equitativa e com um número bem menor de crises financeiras, durante os “maus dias do passado” do que o fizeram no período das reformas voltadas para o mercado. Além disso, também não é verdade que quase todos os países ricos tenham ficado ricos por meio de políticas de livre mercado. A verdade é mais ou menos o oposto. Com apenas algumas exceções, todos os países ricos de hoje, entre eles a Grã-Bretanha e os Estados Unidos — os supostos lares do livre comércio e do livre mercado — ficaram ricos por meio da combinação do protecionismo, subsídios e outras políticas que hoje eles aconselham os países em desenvolvimento a não adotar. As políticas de livre mercado tornaram poucos países ricos até agora e poucos ficarão ricos por causa dela no futuro.

8 - O capital tem uma nacionalidade
Apesar da crescente “transnacionalização” do capital, quase todas as empresas transnacionais na realidade continuam a ser empresas nacionais com operações internacionais, em vez de companhias genuinamente desprovidas de nacionalidade. Elas realizam no seu país de origem a maior parte das suas atividades básicas, como pesquisas avançadas e a definição de estratégias. Quase todos os seus principais tomadores de decisões também são cidadãos do país de origem da empresa. Quando precisam fechar fábricas ou reduzir empregos, geralmente o último lugar onde fazem isso também é no país de origem, por vários motivos políticos e, acima de tudo, econômicos. Isso significa que o país de origem se apropria da maior parte dos benefícios de uma corporação transnacional. É claro que a nacionalidade não é a única coisa que determina o comportamento das corporações, mas deixamos de considerar a nacionalidade do capital ao nosso próprio risco.

9 - Não vivemos em uma era pós-industrial
Podemos estar vivendo em uma sociedade pós-industrial no sentido que quase todos nós trabalhamos em lojas e escritórios e não em fábricas. Mas não ingressamos em um estágio de desenvolvimento pós-industrial no sentido que a indústria deixou de ser importante. A maior parte (embora não a totalidade) do encolhimento da parcela da manufatura na produção total não se deve à queda na quantidade absoluta de bens manufaturados produzidos e sim à queda nos seus preços com relação aos dos serviços, o que é causado pelo seu crescimento mais rápido na produtividade (produção por unidade de insumo). Hoje, embora a desindustrialização se deva principalmente a esse crescimento diferencial de produtividade através dos setores, e portanto talvez não seja uma coisa negativa em si mesma, ele tem consequências negativas para o crescimento da produtividade na economia como um todo e para o balanço de pagamentos, o que não pode ser desconsiderado. Quanto à ideia de que os países em desenvolvimento podem em grande medida passar por cima da industrialização e entrar diretamente na fase pós industrial, trata-se de uma fantasia. O escopo limitado deles para o crescimento da produtividade torna os serviços um mecanismo de crescimento ineficaz. A baixa negociabilidade dos serviços significa que uma economia mais baseada em serviços terá uma menor capacidade de exportar. Uma receita menor com a exportação significa uma capacidade mais fraca de comprar tecnologias avançadas do exterior, o que por sua vez conduz a um crescimento mais lento.

10 - Os Estados Unidos não têm o padrão de vida mais elevado do mundo
O cidadão americano médio de fato tem um comando maior sobre os produtos e serviços do que o seu equivalente em qualquer outro país do mundo com exceção de Luxemburgo. No entanto, considerando-se a grande desigualdade do país, essa média é menos precisa ao representar a maneira como as pessoas vivem do que a média de outros países com uma distribuição de renda mais semelhante. A elevada desigualdade também está por trás dos indicadores de saúde mais insatisfatórios e das estatísticas de crime mais desfavoráveis dos EUA. Além disso, o mesmo dólar compra mais coisas nos EUA do que na maioria dos outros países ricos principalmente porque nos EUA os serviços são mais baratos do que em qualquer outro país semelhante, graças ao maior número de imigração e péssimas condições de trabalho. Além do mais, os americanos trabalham um número bem maior de horas do que os europeus. Considerando-se a hora trabalhada, o comando deles sobre os produtos e os serviços é menor do que o de vários países europeus. Embora possamos debater que estilo de vida é melhor — mais bens materiais com menos horas de lazer (como nos EUA) ou menos bens materiais com mais tempo de lazer (como na Europa) — isso sugere que os EUA não têm um padrão de vida inequivocamente mais elevado do que o de países semelhantes.

11- A África não está destinada ao subdesenvolvimento
A África nem sempre esteve estagnada. Nas décadas de 1960 e 1970, quando todos os supostos impedimentos estruturais ao crescimento estavam presentes e eram, com frequência, mais restritivos, ela na realidade apresentou um desempenho de crescimento satisfatório. Além disso, todas as desvantagens estruturais que supostamente refreiam a África estiveram presentes na maioria dos países ricos de hoje — um clima desfavorável (ártico e tropical), a falta de acesso ao mar, recursos naturais abundantes, divisões étnicas, instituições deficientes e uma cultura ruim. Essas condições estruturais só parecem atuar como impedimentos ao desenvolvimento da África porque os países desse continente ainda não possuem as tecnologias, instituições e habilidades organizacionais necessárias para lidar com as suas consequências adversas. A verdadeira causa da estagnação africana nas últimas três décadas são as políticas de livre mercado que o continente foi obrigado a implementar durante esse período. Ao contrário da história e da geografia, as políticas podem ser modificadas. A África não está destinada ao subdesenvolvimento.

...Continua no próximo post

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Por que uns conseguem e outros não?


Olá amigos e amigas que acompanham o Senhor Bufunfa!
Já percebeu que na vida todos temos quase as mesmas oportunidades e uns conseguem e outros não?
No campo da educação financeira, lemos os mesmos livros, mesmos blogs, assistimos os mesmos filmes e vídeos recomendados.
Mas alguns ficam pelo caminho e outros seguem em frente até atingir o alvo.
O post de hoje é uma reflexão sobre os motivos que nos separam uns dos outros em determinada altura da jornada. Separei alguns pontos que entendo serem os ingredientes chave:


   1 - CONHECE A TI MESMO

A frase "Conhece-te a ti mesmo" está inscrito na entrada do templo de Delfos, construído em honra a Apolo, o deus grego do sol, da beleza e da harmonia. Essa frase tem um significado bem amplo no campo da filosofia, porém vamos usá-lo aqui de maneira bem prática.
A questão é: A ferramenta para atingir o sucesso é você mesmo. Sabemos da importância de conhecer o funcionamento e as limitações das ferramentas que utilizamos para fazer as tarefas do dia-a-dia. Estou falando desde uma simples chave de fenda até um complexo aparelho de calibração. Conosco é a mesma coisa. É necessário fazer uma busca incessante pelo auto-conhecimento. Descobrir suas limitações e seus potenciais. Você é a parte mais importante para seu sucesso, não a sorte ou o mantra "deixe a vida me levar".
Já ouviram falar da Janela de Johari? A palavra Johari tem origem na composição dos prenomes dos seus criadores: Jo (seph) e Hari (Harrington). Vamos falar disso pois conhecer você mesmo não depende exclusivamente de você. Pode acreditar! É preciso de "feedback" de outras pessoas. Se você não se sente confortável com isso, talvez seja um impeditivo para você alcançar o sucesso. Você é do tipo de pessoa que acha sempre estar certo? Isso é um grande problema!



O quarto "Eu Aberto" é aquilo que nos conhecemos e os demais também.
O quarto "Eu Cego" é aquilo que os demais percebem em nossa personalidade e capacidade e nós nem percebemos.
O quarto "Eu Secreto" consiste naquilo que sabemos que somos, porém é desconhecido dos demais.
O quarto "Eu Desconhecido" é formado pelo que tanto nós como os demais desconhecem sobre nossa pessoa.

Estes quartos não são do mesmo tamanho, podem variar de pessoa para pessoa de acordo com o feedback e a auto exposição.

Feedback é o que as pessoas dizem sobre você, e a auto exposição é o que você se sente à vontade para compartilhar sobre você.

Percebeu o grande aprendizado? Para autoconhecer-se, também é necessário ouvir o feedback de outras pessoas. É preciso saber filtrar as várias coisas que vai ouvir. Muitas coisas talvez sejam mentiras frutos de invejas. Algumas coisas serão a percepção que as pessoas tem de você. Talvez não sejam a verdade, mas é importante entender o motivo de você estar passando a impressão errada para as pessoas. Outras coisas serão fatos sobre você que só os outros podem dizer à você.

Tenho um colega de trabalho muito capaz que sofre de baixa-estima. Ele não sabe de sua capacidade e sempre venho falando isso para ele. Talvez isso não seja o seu problema, mas sempre há coisas em você que só os outros conseguirão enxergar.

É muito importante obter esse feedback, mas ele geralmente só virá se você se abrir mais. Você é uma pessoa muito fechada e que expõe-se o mínimo possível? Você é anti-social? As pessoas só se sentem à vontade para lhe dar feedback se perceberem que você também se abre. Não digo contar detalhes íntimos, pois sempre existirá um quartinho do "Eu Secreto". Ele precisa existir mesmo!

Percebe que quanto mais você se abre, automaticamente recebe mais feedback? O quarto do "Eu Desconhecido" diminui! Quanto mais você obter conhecimento de si mesmo, mais saberá utilizar a principal ferramenta do sucesso que é você mesmo.

Exemplos cruéis práticos:

Você já fez um teste de QI ou tem medo do resultado? Por mais que existam controvérsias até que ponto o resultado deste teste pode ser considerado em fins práticos, é notório que ele é um bom indicador da capacidade cognitiva.

Qual seu QI? Nosso governo quer impor a crença que todos são iguais. Não é bem assim e você no fundo sabe. Todos são iguais perante a lei, tem os mesmos direitos e deveres. Não existe ninguém mais especial do que ninguém. Ninguém merece um tratamento melhor ou pior, isso é um fato inquestionável.
Sabemos que existem gênios e pessoas com baixa capacidade cognitiva. Essa é uma verdade inconveniente. Ninguém quer lembrar disso, principalmente aqueles que "saem perdendo" com essa comparação. Um exemplo disso é como os "CDFs" são odiados desde cedo no colégio. Ninguém gosta dessa comparação. Mas você cresceu e precisa entender quem é você e quais são suas capacidades e limitações.
Vejo muita gente que não possui capacidade cognitiva para algumas áreas como exatas, que fazem faculdades "cabulosas" simplesmente porque podem pagar ou porque tem o sonho de ser um engenheiro espacial.
Hoje em dia, muitas faculdades particulares não dão o conhecimento necessário e fazem provas para o aluno passar. No futuro você descobrirá que achou que era um engenheiro, um médico ou um advogado. Talvez isso se reflita com o mercado batendo a porta na sua cara, ou talvez com uma demissão devido ao seu baixíssimo desempenho.

Digo isto para dizer que algumas pessoas nasceram para serem fracassadas? NÃO!

Conhece a ti mesmo! Saiba usar a ferramenta que você é da melhor forma. Tenho um conhecido que não estudou e nem sabe ler direito. Faz as contas básicas da matemática! Ele é dono do próprio negócio de laticínios e estimo ganhar em média 15 mil reais por mês. Bem mais do que eu.
Ele sabia de suas capacidades e limitações, por isso conseguiu moldar sua vida para atingir o sucesso através daquilo que era o melhor para ele. Não digo que a educação básica não é importante, mesmo que um ex-presidente tente nos convencer do contrário. Mas não é obrigatória para o sucesso, apenas um baita de uma facilitador.

Além do teste de QI que foi dado como exemplo, também existem outros testes como o QE (Coeficiente Emocional). Existem vários tipos de inteligência, e o teste de QI não mensura todas elas.


Existe também a inteligência emocional, social, motora, espacial, linguística, etc.
A mais difundida é a inteligência lógica (medida pelo teste de QI), afinal é a mais requisitada na maioria das profissões. Mas podemos ver várias pessoas fazendo sucesso em outras áreas.
Atletas (motora), Psicólogos (emocional), Músicos (sonoro), Escritores e Tradutores (linguística), Embaixadores e Negociadores (social) são um exemplo de sucesso em outras áreas de inteligência.

Além da área da inteligência que expõe suas capacidades/incapacidades, é necessário conhecer-se também nas áreas comportamentais, éticas, morais, espirituais, entre outras. Conhecer-se é um processo diário de reflexão e aprendizado

   2 - PROCRASTINAÇÃO

É transferir para outro dia ou deixar para depois; adiar, delongar, postergar.
Todo mundo é inclinado para procrastinar. O cérebro humano sempre tem um "apetite" maior ao imediatismo do que ao racionalismo. Pensando com clareza, é bem melhor fazer as coisas quando devem ser feitas do que acumular para depois. Racionalmente sabemos que mais à frente o trabalho será muito maior ou pior do que se fosse feito antes e em partes, mas o imediatismo de aproveitar o sabor do lazer imediato é mais saboroso ao nosso cérebro. 
Não vou dizer que é necessário entender que procrastinar é um vício que te atrapalha, pois todos temos consciência disso. Nem vou dar dicas de como parar de procrastinar, pois honestamente não acredito existir tais dicas. Parar de procrastinar tem haver com tomar uma decisão de se tornar um ser humano. Os animais não pensam racionalmente ao ponto de entender o conceito de acumular coisas para o amanhã. Eles vivem o imediatismo, só o presente. Assim como o obeso tem que tomar a decisão de emagrecer ou não, mesmo sabendo dos danos que causa à saúde, a decisão de parar de procrastinar é parecida. O ponto chave é decidir o quanto você leva a sério a sua vida, e se está disposto à fazer as mudanças necessárias. Mesmo aquelas mudanças que mais incomodam, como as comportamentais.

   3 - ORGANIZAÇÃO

É necessário ser organizado. Não estou falando para você se tornar aquele perfeccionista com síndrome de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Mas é preciso organizar, catalogar e definir parâmetros e regras para as coisas.
A organização é importante tanto no seu guarda roupa quanto no planejamento das atividades da sua semana. A falta de organização o fará perder tempo em várias atividades. Também te fará produzir tarefas com menor qualidade. Vai te deixar sem paciência. Te fará perder coisas como dinheiro.
As pessoas não nascem organizadas, elas se tornam a partir da prática do hábito.
Assim como a procrastinação, a desorganização é algo que o cérebro "almeja". E também como a procrastinação, é algo que você tem que tomar atitude de abandonar.
É importante salientar um ponto: Você vai lutar contra si mesmo e a maioria das pessoas. Você será taxado de certinho e chato algumas vezes. Não se deixe influenciar por isso.
Se existe uma dica para deixar a procrastinação visto no tópico anterior e a desorganização é:
MUDE RADICALMENTE! Racionalmente entendemos que existem coisas importantes que precisam ser organizadas e outras não tão importantes assim. Coisas que podem deixar para amanhã, e outras não. O cérebro é moldado através dos hábitos. Enquanto você não mudar radicalmente, não treinará seu cérebro a mudar o "modo operante". Talvez racionalmente não seja tão importante guardar um livro após uma leitura, mas o cérebro não diferencia isso. Para ele só existe o hábito de procrastinar ou não, organizar ou não. Depois de um tempo que você conseguir adotar outros hábitos de maneira automática no seu cérebro, algumas coisas podem passar, mas cuidado pois voltar aos velhos hábitos é muito mais fácil do que adquirir os novos. Afinal o cérebro tem apetite pelo prazer/lazer imediato.

   4 - AMADURECIMENTO

"Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem (ou mulher), eliminei as coisas de criança." 1º CORÍNTIOS 13:11

Essa famosa frase foi retirada da Bíblia, e é uma pura verdade. Por mais que se analisada no contexto da passagem bíblica tenha um sentido mais amplo, vamos nos ater somente à questão do amadurecimento.
Crianças não trabalham, não buscam independência financeira, não se casam, não pagam contas e nem as várias rotinas que temos em nosso dia-a-dia. Você não vai atingir o que almeja se continuar se comportando como criança.
Crianças não saem da zona de conforto. A maior zona de conforto são nossos pais. Desde pequenos sabemos que existe um porto seguro. Quando crescemos, tendemos a acreditar que nosso emprego, nossos pais, nossa igreja, ou qualquer outra coisa é nosso porto seguro. Não existe porto seguro. A segurança que você pode obter é aquela construída por você mesmo.
É preciso se confrontar, e não ter medo de ser confrontado. Um adulto não tem medo de ser julgado pelos outros. Não deixa de agir ou age mediante aprovação dos outros.
Um adulto sabe aproveitar seu tempo com coisas construtivas, portanto foge de bate papos negativos.
É importante ser autêntico. Ser autêntico não significa falar todas as asneiras e porcarias que você tem na mente. Significa não fingir ser quem não é para obter aprovação. Você precisa ser sociável. Se você encontra dificuldades de ser sociável por ser autêntico, precisa aprender sobre inteligência social. Nem tudo que pensamos é para ser dito. Verifique o que em você incomoda a maioria das pessoas. Você é egoísta, insensível, arrogante ou algo do tipo? Precisa corrigir isso, afinal ninguém consegue ser sociável com esses hábitos.

Você consegue manter um relacionamento amoroso ou é ainda aquele adolescente que só "pega e larga"? Pessoas que mantém bons relacionamentos atingem o sucesso financeiro e pessoal muito mais do que as outras. É muito comum encontrar pessoas infelizes quando não possuem um relacionamento amoroso.

Você largou as coisas de criança? Nos últimos anos com a ascensão social vivida no Brasil, é muito comum ver pessoas que não tinham nada na infância terem capacidade financeira para adquirir os sonhos de criança na idade adulta. O problema é quando o adulto quer viver no presente a vida de criança, na tentativa desesperada de recuperar a infância perdida.
Você gasta muito tempo em vídeo games? Coleciona bonequinhos? Deixa a esposa vários dias em casa para jogar futebol com os amigos? Ainda gasta dinheiro com bonés e tênis de marca que causavam boa impressão no colégio?
Não digo que você não pode ter um vídeo game em casa, ou que só pode comprar sapato social ou tênis sem marca. Mas reflita se você tem algum tipo de obsessão por essas coisas. Um bom indicador é quanto tempo, dinheiro e esforço você dispende à estas coisas.

"Você é escravo de tudo aquilo que não consegue abrir mão."

Reflita qual a finalidade destas coisas: Recuperar a infância ou apenas um lazer não viciante? Saiba entender que a infância passou. Caso ainda fique preso no passado, não terá vivido nem a infância e nem viverá a idade adulta.

   5 - PLANEJAMENTO

Talvez você chegou até aqui passando por cada tópico com louvor, ou seja, está muito bem nesses quesitos. Você é uma pessoa adulta, organizada, com prioridades e muito consciente de si. Parabéns!
Mas o sucesso não vem do acaso. Ele precisa ser planejado. Até para ganhar na loteria existe o planejamento de ir até a esquina e fazer o jogo. No caso do jogo da loteria, é um planejamento muito simples e banal, o que acarreta chances ínfimas de sucesso.
Para garantir o sucesso pessoal (em todas ou qualquer área da vida) é necessário um bom planejamento. Planeje sua vida com detalhes, planos de contenção (plano b), valores mensuráveis e prazos. Não precisa ser uma tese de mestrado, mas também não vá fazer isso em um "papel de pão".
Antes de mais nada, tire uma semana para refletir sobre sua vida. Descubra o que te fará feliz e realizado. Olha que frase realista e inspiradora:


Após uma semana de reflexão, ponha isso no papel. Uma vez li um livro que recomendava imprimir um "calendário da vida". Nele teriam todos os anos da sua vida produtiva, e esses anos seriam divididos por meses ou semanas. Escreva todas as suas metas nele, com o prazo planejado de conclusão. Assim que acordar, uma das primeiras coisas é olhar para este calendário.
É genial! É algo de pessoa madura, organizada, que não dá lugar à procrastinação e que se planeja. Tudo aquilo que você foca, se expande. Quanto mais aquela ideia ficar na sua mente, mais aceitação e compromisso com ela você terá.

   6 - EDUCAÇÃO

De nada vale toda consciência dos itens anteriores se não houver a busca de conhecimento.
No outro post eu escrevi:

"O tolo erra e não aprende com seus erros, o homem comum aprende com seus erros, e o sábio aprende com o erro dos outros"

Isso também é educação. O que são os livros e todo conteúdo acadêmico senão orientações para fazer o certo na primeira vez? De nada vale toda maturidade, organização e planejamento sem conhecimento. O Conhecimento é a sua principal arma. É aquilo que aumenta sua capacidade de realização. Existem tantos gastos com coisas fúteis, e não queremos investir em educação? Um planejamento feito sem conhecimento (educação), é fadado ao fracasso. Quando atinge o sucesso, o faz de maneira vagarosa.
Em caso de queda ou perda financeira, só se perde o material. O imaterial que é o conhecimento nunca se perde.
Cada dia que você vive é um dia para aprender coisas novas. Aproveite a internet! Nunca houve tanto conhecimento de forma gratuita.
Tome para você a conclusão de Sócrates:

"Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa."

Nunca acredite que já sabe o bastante. Sempre há coisas valiosas a serem aprendidas.
Não deseje riqueza, deseje conhecimento e sabedoria como Salomão. Riqueza será a consequência da busca do conhecimento, auto-conhecimento, amadurecimento e propósito de vida (planejamento).
Tenha uma vida honesta, solidária e humilde, sem achar-se superior a ninguém.

Muito obrigado por chegar até aqui. Desejo muitíssimo que isso venha agregar valor à sua vida.
Acho que agora temos muito trabalho pela frente né? Até o próximo post!

Saudações do Senhor Bufunfa.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Você realmente sabe o que é a Independência Financeira?



Bom dia amigos e amigas da Finansfera!

O tema de hoje é uma reflexão e opinião pessoal. Vamos falar do que é realmente a Independência Financeira?

Existe uma frase atribuída a Nelson Rodrigues que gosto muito, e diz:
"Toda unanimidade é burra"
Até o imbecil aqui sabia disso:


Não necessariamente que isto seja verdade, pois existem verdades universais que todos nós aceitamos e não somos burros por isso. A grande questão é: Quando todos pensam da mesma forma, acho que vale a pena dar uma conferida na teoria da coisa, não é mesmo? Eu sou aquele tipo de gente chata/odiada que sempre investiga e questiona as coisas que para a maioria são inquestionáveis. Acredito que os senhores também passam por isso ao falar de finanças com a família e maioria dos amigos, não é mesmo?

Um outro ponto é: "A verdade não é única". 

Na verdade, sim, ela é única. Deixe-me explicar. rsrsrsrs

A questão é que para determinados casos, o conceito verdade e mentira não se aplica bem. Um exemplo clássico é dizer que na verdade a cor verde é a mais bonita do mundo. Mas isso é uma opinião, não é mesmo? Aqui entra aquele conceito "minha verdade e sua verdade" que não gosto de empregar.
Pessoalmente acredito que a verdade é única, e para algumas questões o conceito a ser utilizado é "opinião", e não o termo verdade. Mas vamos parar de filosofar e entrar nas finanças, não é melhor?

Existe muita conversa girando em torno da Independência Financeira, a famosa IF que todos escrevem. Mas já parou para pensar que cada um pode ter uma visão diferente do significado dela?
Eu mesmo já tive interpretações diferentes desse conceito ao longo da minha vida.

O conceito informal mais entendido é: "Viver de renda passiva sem precisar trabalhar"

Desculpe por resumir esse conceito sagrado de forma tão leviana, mas a maioria pode pensar assim. Eu já pensei...

Após vários aprendizados que a vida me proporcionou, creio que amadureci um pouco mais esse conceito, e acredito que independência financeira não é algo a ser tratado isoladamente no campo financeiro. E se for tratada desta forma, você não conseguirá atingir o que queria com ela.



A jornada que percorremos quase constantemente solitários na educação financeira nos proporciona um auto conhecimento, mudanças de comportamentos e revisão de vida. Melhoramos como ser humano e aprendemos muito além da esfera financeira. Acredito que parte da independência financeira também é independência dos valores e conceitos mercadológicos que a sociedade nos apresenta desde cedo. Começamos a enxergar fora da caixa (ou caverna) e nos libertar das amarras do consumismo. Descobrimos que não é o consumismo que nos fará feliz.
É uma ironia! No princípio a maioria das pessoas busca a independência financeira por acreditar que o dinheiro nos tornará mais felizes, e no meio da jornada descobrimos que não é a verdade.
Dinheiro continua sendo importante, mas o uso que faremos dele é bem diferente do que planejamos no início da jornada.

Depois de muita reflexão, cheguei à seguinte conclusão sobre o motivo da infelicidade da sociedade atual:

As pessoas buscam a felicidade amando as coisas e usando as pessoas. Mas o segredo da felicidade é amar as pessoas e usar as coisas.

Quantas vezes observamos pessoas que usam as outras? No trabalho criam-se relacionamentos abusivos e anti-éticos. Usam-se pessoas na busca da promoção e maiores remunerações. Criam-se amizades com pessoas bem sucedidas que podemos obter vantagem. Namoramos pessoas fúteis pela beleza. Não nos importamos com elas, apenas usamos sua beleza como um troféu de conquista e sucesso.
Mas amamos as coisas! Amamos nosso carro, que perdemos muito dinheiro e tempo para deixar "tunado". Compramos as rodas mais "iradas" e ficamos enamorados, parados só observando. Compramos o celular mais caro e perdemos mais tempo nele do que com amigos e família. Gastamos uma grana preta em um relógio chique, mas queremos economizar nos momentos maravilhosos que uma viagem com a família ou amigos proporcionaria.

Estes são alguns exemplos, mas nesse ponto você pode facilmente fazer uma reflexão e descobrir mais coisas não é mesmo?

Acredito que Independência Financeira é algo pessoal.
O que você quer?

Parar de trabalhar e viver de renda?
Continuar trabalhando, mas poder escolher o trabalho?
Ter mais tempo com qualidade?
Poder viver onde quiser?
Ter capacidade financeira para ostentar coisas que sempre teve vontade de ter?
Passar mais tempo com a família?
Etc, etc, etc.



É muita coisa a se pensar...
Para ser prático, vou postar aqui meu ponto de vista.
Isso é o que aplico A MIM. Lógico que meus conceitos podem mudar um dia, afinal sou uma "metamorfose ambulante"!

Classifico minha independência financeira em 3 degraus a serem escalados:



  1. Ter patrimônio que gere renda (passiva ou não) suficiente para sobrevivência. Significa que com a perda do emprego, eu não vá morar de baixo da ponte. Isso significa ter capacidade financeira para manter uma moradia, a alimentação e saúde razoáveis. Nesse estágio não existem luxos. Não existe "almoçar fora", viagens ou carro.
  2. Ter patrimônio que mantenha minha condição atual. Consigo viver com alguns luxos, porém todos precisam ser controlados para não exceder e o barco financeiro afundar. Como atualmente faço economias mensais, esse nível é um pouco melhor como vivo atualmente, pois ao atingi-lo não precisaria de aportes mensais (caso não queria subir o degrau do nível 3, o que não é o caso)
  3. Ter patrimônio que possibilite renda para viver confortavelmente. Pelos meus cálculos significaria renda mensal de 10 mil reais. Lógico que uma vez atingido este degrau, a jornada pode continuar. Creio que o degrau 3 é o fim da jornada da independência financeira, pois seguir além só te tornara mais rico, mas a independência já foi conquistada.
Trabalho incansavelmente buscando o primeiro degrau, e logo após, todos os demais. Mas é um compromisso de vida? NÃO!

POR QUE??????

Existem várias coisas que podem ocorrer que me façam ter que fazer uma escolha difícil.
Um compromisso de vida significa que independentemente da segunda opção, a escolha da independência financeira vem em primeiro lugar.

Seu filho está muito doente e o tratamento exige muitos recursos financeiros que comprometem sua independência financeira. O que você escolhe?
Você e sua esposa tem ideias e metas financeiramente diferentes. Você aceita negociar um meio termo ou é ferrenho em suas posições e quer sempre poupar o máximo que puder? Saiba que a vida a dois é VIDA A DOIS. Não se pode obrigar um estilo de vida à ninguém.

Como estes exemplos, existem várias outras situações que será necessária uma escolha.

Aí entra a questão do início do tópico. O que é independência financeira? Se no futuro aparecer um dilema que te colocar para escolher entre o dinheiro (coisa) ou pessoas, relacionamentos ou qualquer advento que envolva pessoas, o que você escolheria?

Escolher coisas para economizar grana e não abdicar da IF realmente o fará alcançar a plenitude da vida? Não era esse o objetivo ao alcançar a independência financeira?

Não digo isso para desanimar ou desprestigiar a meta da independência financeira, pelo contrário! Só desejo tornar o sentido da IF mais amplo. Você busca a independência pelos motivos "certos"? Ou pelo menos pelos motivos que o farão feliz realmente?

Já foi muita reflexão até aqui, e estou até me estranhando. Sou aquele tipo de pessoa muito técnica e prática (para alguns, frio).



Vamos mostrar como eu calculo minha independência financeira:

Para começar, quando reiniciei minha caminhada para a independência financeira em setembro/14, estimei que o valor de 2.700 reais mensais era o necessário para chegar ao 1º degrau da independência. Isso garantiria o mínimo para qualquer cidadão. Esse valor eu atualizo mensalmente pelo indicador de inflação INPC. Atualmente esse valor já está em 3.293 reais.

Portanto, como saber quanto dessa meta eu já atingi? Eu uso a seguinte fórmula:

= Patrimônio Atual / ( (renda mensal IF*12)*0,08)
ou seja:
= 82.595 / ((3293*12)*0,08)

Os cálculos indicam que já atingi 16,7% do degrau 1 da independência financeira

Considerações:
  • O total do patrimônio envolve casa e carro além dos investimentos. Isso difere um pouco do que a maioria pratica, pois consideram somente a carteira de investimentos, pois só estes geram renda passiva. Meu ponto de vista é diferente, pois meu conceito de degrau 1 da IF significa ter o básico. Significa não ter carro, portanto o valor do carro que tenho atualmente seria investido. Também considero no patrimônio o valor do meu imóvel, pois a renda mensal que estimei ser o básico para viver considera também aluguel. Portanto se vender meu imóvel para aplicar essa grana, tenho dinheiro para pagar o aluguel. Se não vender o imóvel, não terei gasto com aluguel e consigo viver com menos rendimentos.
  • Outra questão polêmica é a tal taxa a ser considerada no cálculo da IF. Eu uso 8% ao ano. Para a maioria isso é um absurdo! Vejo pessoas usando 4%, ou no máximo 6%.
    A questão é que as pessoas se baseiam muito em taxa selic e em torno de renda passiva gerada por ativos financeiros como dividendos e renda fixa. Eu acredito que dinheiro gera dinheiro. Eu uso e gosto das opções do mercado financeiro, mas uso principalmente como forma inicial de acumulação.
    Quais possibilidades temos com 5, 10 ou 20 mil reais para gerar mais dinheiro? Infelizmente só os ativos financeiros. Quando você consegue acumular mais, começa a aparecer mais oportunidades para fazer seu dinheiro crescer bem acima de 8% ao ano.
    Vou dar um exemplo: Antes de quebrar (você já leu meus primeiros posts?) também investia em imóveis. No ano de 2010 eu construí e vendi duas casas. Se for considerar todos os gastos que tive, obtive 40% de lucro só neste negócio.
    Entendeu porque uso 8% ao ano? Quando você acumula dinheiro, aparecem oportunidades muito melhores do que renda fixa.
    Quantas vezes vi amigos e parentes oferecendo suas casas, terrenos e carros por bem menos do que valem devido à algum aperto financeiro? Quando você aplica seu dinheiro no mercado, o que eles fazem é justamente isso. Juntam as nossas merrequinhas investidas e formam um bom montante para aplicar em outros negócios bem mais rentáveis. Portanto o objetivo em investir em ativos financeiros é acumulação no início da jornada. Quando atingir o meio da jornada, me concentrarei em outras oportunidades de investimento alternativas e mais lucrativas. Se um dia quiser ter 0% esforço (A maioria dos negócios já envolvem pouco esforço), volto aplicar no mercado financeiro. Não me vejo um dia querendo ficar parado (pescando dia após dia em uma lagoa ou riacho) Então 8% ao ano no MEU CASO é realmente BEM conservador
O cálculo do segundo e terceiro degraus são muito simples:

Para atingir o segundo e terceiro degraus, seriam necessários rendimentos mensais de 6.587 e 9.800 reais respectivamente, ou seja, atingir 200% e 300% no cálculo apresentado anteriormente.

Portanto, resumindo tudo:

Só é possível atingir a plenitude de vida vivendo com plenitude desde já. Isso não significa gastar mais dinheiro!
Trace metas e saiba encontrar caminhos alternativos quando encontrar dificuldades.
Ame as pessoas e use as coisas, não o contrário.
O homem mais pobre é aquele que a única coisa que possui é dinheiro.



O que você achou do post? Quais são suas ideias sobre independência financeira e vida com plenitude? Como calcula sua independência financeira?

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