O Guru Atrapalhado

Olá amigos!

Após ler tantas histórias que os amigos postam sobre a "Matrix Financeira", chegou a minha vez de contar uma que nos servirá de alerta.

Lá em meados de 2007 um amigo me apresentou o livro "Pai Rico, Pai Pobre". Ele parecia bastante animado e motivado, como se tivesse achado um tesouro!

Não parava de falar de independência financeira e liberdade para fazer o que quisesse. Com uma história tão sedutora assim, resolvi conferir. Logo estava eu também todo animado com os ensinamentos do livro.

Foi o meu tutor no início, me passando uma nova visão de mundo e liberdade. Sabia todas as últimas notícias, bolsa de valores, conceitos de mercado, etc. Compilava dados de maneira sobre-humana.

Lembro-me que a primeira coisa que ele fez foi investir na bolsa de valores. Hoje sei que ele ainda não estava preparado, apenas motivado. Consigo entendê-lo, afinal estávamos em época pré-crise, e a bolsa só subia há vários anos. Todos apostavam que o movimento perduraria...

Após alguns meses levou um bom baque. Eu também levei, afinal segui os passos do meu guru.

Neste momento ele tomou a segunda atitude errada na vida, que foi vender o apartamento que morava com a esposa que já estava quitado. O plano era pegar a grana e construir uma casa para vender. O terreno era de um parente, e o acordo era construir a casa e vender para após ser pago o terreno. O plano até que era bom.

Passou pouco mais de um ano para que isso tudo se concretizasse, e foi nesse período que veio o terceiro erro.

Esse amigo estava muito insatisfeito no emprego, a ponto de se indispor de maneira bastante visível com seu supervisor perante os pares de trabalho. Em seus planos estava a ideia de vender a casa e continuar comprando terreno, construindo e vendendo. Ele tocou o f*** no emprego. Achou que já estava muito bem financeiramente e começou a gastar muito com lazer.

Meu amigo sempre foi aquele tipo de pessoa que enxerga "oportunidade" em tudo. O problema é que em todo plano de negócio devemos calcular os riscos. Eu o alertei sobre isso, mas foi quase hilário ver o que ele sempre me apresentava.

Cenário Otimista = Conto de fadas, irreal, era praticamente ganhar na loteria 15 vezes
Cenário Normal = Muito Otimista, nada dá errado e o mundo é perfeito.
Cenário Pessimista = Praticamente o cenário normal com toques de otimisto

O cara praticamente se negava a acreditar que as coisas podiam dar errado! Era assim para todas as ideias e projetos que imaginava. Quando eu propunha perguntas e situações inesperadas, ficava desconcertado e argumentava: "Mas isso é impossível acontecer, nada pode dar tão errado assim". Eu dizia: "Ué, mas cenário pessimista é isso!"

Não adiantava, o cara era otimista demais!

Chegou a um ponto que ele decidiu que iria sair do emprego, e assim o fez. Como o tempo de retorno do investimento em construção era superior a um ano, e precisava se manter nesse período, resolveu investir em dois negócios paralelos que proporcionariam rendas mensais:

Negócio 1 - Comprar uma VAN e fazer transporte fretado particular
Negócio 2 - Abrir uma serralheria em sociedade com amigos

Resultado:

Em relação à VAN, nos primeiros meses bateu o veículo por causa do sono e ficou traumatizado e nunca mais quis trabalhar com isso.
Já sobre a serralheria, não é surpresa que não deu certo. Além de não entender nada do ramo, trabalhar em sociedade era um enorme desafio.

Logo saiu endividado desses negócios e em uma situação ruim. Conseguiu um emprego logo após isso que ganhava razoavelmente bem, mas por infelicidade só durou lá 6 meses.

Começou a trabalhar no negócio da mãe por um bom tempo, e logo enxergou novamente as "oportunidades" de melhoria. Injetou capital que nunca teve o retorno. Mais uma vez a visão equivocada o fez perder grana. Era um negócio que vinha se arrastando há um bom tempo, e com a crise que o Brasil passava, o faturamento caiu ainda mais.

Conseguiu um outro emprego, e resolveu trocar de carro. Possuía um carro financiado e um caminhãozinho e queria fazer negócio. Eu o aconselhei a trocar por um carro mais barato a vista, sem financiar nada. Não adiantou, pois o amigo otimista acreditou que conseguiria pagar as parcelas de um veículo melhor e mais caro, e se justificava dizendo: "Minha família merece esse conforto e não posso privá-los disso".

O plano era conciliar o emprego e o negócio com a mãe. Logo a esposa e a mãe estavam trabalhando juntas e tinham vários atritos.

Mesmo sendo um bom profissional, a empresa que trabalhava fechou, deixando-o sem emprego novamente. Convenceu a esposa em largar o negócio familiar e investirem na Hinode. As esperanças estavam a mil e falava disso para todo mundo. Citava exemplos de várias pessoas que ficaram ricas que são diamante, ouro, platina e inúmeros metais e pedras preciosas que servem mais para apalpar o ego das pessoas com nomes bonitos para cargos de vendedores.

O retorno esperado não veio, e logo vendeu o carro financiado antes de estar quitado. Fez a troca por um carro bem mais simples do que conseguiria antes se tivesse me ouvido. Perdeu grana, pois fez negócio nessas agências de compra e venda que desvalorizam ao máximo nosso carro na avaliação.

Hoje meu amigo está tentando a sorte como pastor. Agora sim acredito que vai ter mais sorte! Que eu saiba, só se for muito atrapalhado mesmo para não ganhar dinheiro neste ramo.

A vida segue... Vamos ver nos próximos capítulos como isso vai terminar.

Que isso nos sirva de alerta! Estejamos atentos quando nossas emoções quiserem tomar as rédeas da nossa vida. Sejamos realistas, e não somente burros motivados.